sábado, 26 de setembro de 2009

PRODUÇÃO LEITEIRA ECONÔMICA E AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL



O Brasil é um grande produtor e consumidor leiteiro. A demanda nacional e de exportação exige cada vez maiores produções de leite, o que, consequentemente acarreta em necessidades de uma maior área aberta para produção de pastagens e criação de bovinos. No século passado, o Brasil iniciou uma demanda pelas regiões nativas e de matas preservadas para a produção de alimentos, formando, em terras nativas, extensas áreas de pastagens, colidindo com um acréscimo na população bovina considerável, e provocando um grande desequilíbrio natural nestas regiões. Hoje, o Brasil possui mais de 200 milhões de hectares ocupados por pastagens, e estimativas recentes, indicam que mais de 50% das áreas sob pastagens se encontram em processo de degradação[1].

O objetivo deste artigo é analisar de que forma a produção leiteira não ambientalmente sustentável no Brasil tem contribuído para os complicadores ambientais, e apresentar um sistema que possa ser sustentável do ponto de vista econômico e ambiental.

O processo de produção pastoril brasileiro, não ambientalmente sustentável, tem acarretado enormes distúrbios sócio-ambientais, gerando desmatamento de enormes áreas naturais para ceder lugar às pastagens, espécies nativas cedendo lugar a bovinos, e tudo isso contribuindo com grandes distúrbios climáticos, pedológicos e hidrológicos.

Os sistemas silvipastoris têm alcançado grande audiência nos estudos de minimização de impactos ambientais na criação de bovinos, seja para corte, seja para produção de leite. Segundo Vanderley Porfírio-da-Silva (2004), da Embrapa Florestas, “os SSPs apresentam grande potencial de benefícios econômicos e ambientais para os produtores e para a sociedade, a criação de animais com árvores dispersas na pastagem, árvores em divisas e em barreiras de quebra-ventos, podem reduzir a erosão, melhorar a conservação da água, reduzir a necessidade de fertilizantes minerais, capturar e fixar carbono, diversificar a produção, aumentar a renda e a biodiversidade, melhorar o conforto dos animais
[2].

A introdução de animais em florestas de produção é prática utilizada por empresas florestais, em muitos países do mundo, com regimes de manejo específicos
[3], e tem promovido um desenvolvimento econômico e ambiental, ao mesmo tempo em que promove a manutenção ambiental da área de produção.

O Sistema Silvipastoril

Os maiores produtores investem em grandes tecnologias para melhoramento da genética das vacas, da produção de um produto cada vez mais competitivo, e na outra ponta desta escala encontramos os produtores familiares, de pequenas propriedades e rebanho, com suas limitações e produções reduzidas. Contudo, a heterogeneidade do processo produtivo é marcante entre a grande maioria dos produtores.

Quando pensamos em produção de leite, uma característica que aproxima grandes e pequenos produtores é a pouca preocupação com as questões ambientais. Grandes áreas de matas têm sido devastadas, sobretudo nas regiões Centro-Oeste e Norte, para abrigarem extensas áreas de pastagens para bovinos, o que não exclui as regiões leiteiras brasileiras que já devastaram a maior parte das suas matas para cederem espaço aos bovinos, como no caso das regiões Sudeste e Sul.

Um sistema de produção de leite não sustentável causa inúmeros problemas ambientais, sejam pedológicos, com a compactação dos solos, derrubada das florestas provocando o empobrecimento do solo devido a falta de matéria orgânica (
areias, argilas, óxidos e húmus), erosão e até mesmo voçorocas; hidrológicos com a contaminação dos corpos hídricos pela a percolação de altas cargas de Fósforo (P) e Nitrogênio (N) ocasionando a eutrofização destes sistemas hídricos, e pela falta de mata ciliar o solo é transportado para para as partes mais baixas dos relevos e em geral vão assorear cursos d'água; e atmosféricos devido à alta emissão de CH4 causada pelos gases emitidos pelos ruminantes. Segundo dados da Conpet[4] (Programa Nacional da Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natural) os bovinos são os maiores responsáveis pela emissão deste gás para a atmosfera, contribuindo consideravelmente para a destruição da camada de ozônio, pois, segundo eles, o CH4 tem um poder de aquecimento 21 vezes maior que o do CO2.

Quando observamos os impactos causados ao meio ambiente, por ocasião da implantação das agroindústrias leiteiras e de corte, os maiores impactos são gerados pela derrubada das matas para darem lugar ao plantio de pastagens. Quando ocorre esta devastação, não somente impacta as árvores e florestas em geral, mas compromete toda uma comunidade biótica natural daquele espaço de terra, provocando grande emissão de CO2. Segundo o portal da Ambiente Brasil “o fogo é normalmente empregado para fins diversos na agropecuária, na renovação de áreas de pastagem
[5]”. “Através das queimadas, são produzidas espécies químicas, tais como monóxido de carbono (CO), óxidos nitrosos (NOx,), hidrocarbonetos, e partículas de aerossóis (Andreae, 1991), os quais são incorporados à atmosfera, sendo a ela misturados e transportados[6]”.

Dentro do processo produtivo leiteiro podemos observar que algumas fases deste processo podem se tornar sustentável e economicamente satisfatório tanto para o produtor quanto para o meio ambiente. Um destes sistemas que já tem sido oferecido como alternativa econômica e ambiental é o sistema silvipastoril, que tem como filosofia principal a diversificação de culturas, com inúmeros sistemas diferentes convivendo em um mesmo espaço. Mistura a produção agrícola e silvipastoril a elementos arbóreos, o que proporciona o equilíbrio ecológico e uma série de benefícios para o agricultor e para o meio ambiente
[7].

Este sistema silvipastoril permite uma interação entre a ação antrópica e a biota original, proporcionando um impacto muito reduzido diante dos sistemas normalmente utilizados de derrubada total da floresta em ambientes a serem designados para o plantio de pastos para sustento de animais leiteiros. Este sistema permite uma grande diversificação de culturas e, de certa forma, a interação entre cada uma delas devido à convivência no mesmo espaço. A mistura de sistemas arbóreos, especialmente os nativos, ou até mesmo a floresta plantada proporciona um grande equilíbrio ecológico, gerando vários benefícios tanto para o produtor quanto para o meio ambiente.

Segundo o INCAPER (Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural) “O Sistema Agroflorestal configura-se também em um sistema auto-sustentável, que dispensa o uso intenso de insumos químicos. Isso porque as árvores, além de aumentarem a retenção de água no solo, disponibilizam, por meio das folhas que caem, nutrientes para o solo, que são absorvidos pelas raízes das plantas. Além disso, a diversidade de culturas faz com que a produção seja menos suscetível a pragas e doenças
[8].”

No sistema silvipastoril as vantagens são grandes em vários aspectos econômicos e ambientais, dentre vários outros. Segundo a apresentação de um projeto intitulado Sistemas Silvipastoris, promovido pela Embrapa Gado de Leite, os benefícios deste sistema são muito viáveis, sobretudo, os fatores determinantes apresentados pelo estudo são:




  • “Conforto térmico para os animais. (Pires et al., 2007)

  • Conservação de solo e água. (Sanchez, 2001)

  • Melhoria propriedades químicas do solo. (Castro et al., 2007)

  • Aumento da atividade microbiana do solo. (Rangel, 2005)

  • Melhoria valor nutricional da forragem. (Paciullo et al., 2007)

  • Maior retenção de carbono. (Tsukamoto Filho et al., 2004)[9]


Estes estudos têm comprovado a eficácia de um manejo bem feito, aliando a criação de gado por meio de sistemas de florestas, o que minimiza em grande escala a derrubada de florestas para plantio de pastagens.

À medida que mantemos a floresta, aliando seus recursos à criação de gado leiteiro, os valores empregados no combate de pragas serão minimizados, pois como vimos este sistema dispensa boa parte do uso intenso de insumos químicos; os problemas com os solos, a perda de recursos hídricos e os investimentos com a recuperação de áreas degradadas serão sensivelmente minimizados, promovendo uma maior economia dos recursos financeiros de quem os aplica.

Ambientalmente, este sistema provoca uma interação entre a ação antrópica e os recursos naturais existentes na região. Uma vez aplicada o sistema silvipastoril, os recursos naturais se manterão em seu estado original, promovendo a conservação e as propriedades do solo, das águas, e contribuindo para que a biota original seja mantida.

Diante desta breve análise, podemos concluir que o sistema silvipastoril trata-se de uma proposta econômica e ambientalmente sustentável, gerando renda e promovendo o meio ambiente.

Referências Bibliográficas

[1] http://www.cnpab.embrapa.br/publicacoes/artigos/artigo_pastagens_produtivas.html
[2] http://www.cnpf.embrapa.br/pesquisa/safs/index.htm
[3] Análise de um Sistema Silvipastoril com Pinus Elliottii e Gado de Corte. Amilton J. Baggio, Henrique G. Schreiner
[4] http://www.conpet.gov.br/noticias/noticia.php?segmento=&id_noticia=1115
[5]http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./florestal/index.html&conteudo=./florestal/artigos/queimada.html
[6] Andreae, M. O., Biomass burning: Its history, use and distribution and its impact on environmental quality and global climate, in Global Biomass Burning: Atmospheric, Climatic and Biospheric Implications, editado por J. S. Levine, pp. 3-21, MIT Press, Cambridge, Mass., 1991 – Emissões de Queimadas em Ecossistemas da América do Sul. Saulo R. Freitas, Karla M. Longo, M. A. F. Silva Dias e P. L. Silva Dias
[7] www.incaper.es.gov.br
[8] Ibid Incaper
[9] Sistemas Silvipastoris. Domingos Sávio C. Paciullo, Carlos Renato Tavares, Pedro Braga Arcuri. Embrapa Gado de Leite.


por Alexandre F. Pevidor

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

ECOEFICIÊNCIA E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Segundo Almeida (2002) pode-se considerar a ecoeficiência uma filosofia de gestão das organizações. Ela tem como objetivo estimular empresas de todos os setores e tamanho a se transformarem e ganharem novas aptidões em relação ao meio ambiente, mantendo uma harmonia entre o desempenho econômico e ambiental.

A ecoeficiência possibilita a produção em conformidade com os requisitos ambientais e com identificação de oportunidades de economia na modificação de processos, enquanto a conformidade normativa possibilita, apenas, o atendimento a requisitos ambientais estabelecidos em normas técnicas (de gestão e de processos), com eventuais certificações.

Pode-se entender que o objetivo principal da ecoeficiência é maximizar o valor, enquanto minimiza os impactos ambientais adversos, minimizando a utilização de recursos e minimizando as conseqüências ambientais negativas provenientes das emissões (LERIPIO, 2001).

Desta forma, entende-se como ecoeficiência, as atividades e a dedicação que uma organização desenvolve para otimizar os processos com a redução na fonte da utilização dos recursos naturais, tendo como finalidade restringir o impacto ambiental, resultando em benefícios ecológicos e também econômicos (ALMEIDA, 2005).

Os autores DeSimone e Popoff (1997, apud KRAEMER, 2002) expõem sete elementos do processo produtivo ecoeficiente: reduzir o consumo de materiais e energia com bens e serviços; reduzir a emissão de substâncias tóxicas; intensificar a reciclagem de materiais; maximizar o uso sustentável de recursos renováveis; prolongar a durabilidade dos produtos; e agregar valor aos bens e serviços. Com a redução do consumo de produtos naturais, o equilíbrio pode existir e minimizar os impactos na produção de bens e serviços.

XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005
ENEGEP 2005 ABEPRO 5082

Esta melhoria na relação com o meio ambiente é capaz de beneficiar a produtividade dos recursos utilizados na organização. Porter (1999) destaca benefícios tanto para o processo quanto no produto. Os benefícios para o processo são: economias de materiais, resultantes do processamento mais completo, da substituição, da reutilização ou da reciclagem dos insumos de produção; aumento nos rendimentos do processo; menos paralisações, através do maior cuidado na monitoração e na manutenção; melhor utilização dos subprodutos; conversão dos desperdícios em forma de valor; menor consumo de energia durante o processo de produção; redução dos custos de armazenagem e manuseio de materiais; economia em razão de um ambiente de trabalho mais seguro; eliminação ou redução do custo das atividades envolvidas nas descargas ou no manuseio, transporte e descarte de resíduos; e melhoria no produto como resultado indireto das mudanças nos processos (como melhoria nos controles dos processos).

Os benefícios para o produto são: produtos com melhor qualidade e mais uniformidade; redução dos custos do produto (por exemplo, com a substituição de materiais); redução nos custos de embalagem; utilização mais eficiente dos recursos pelos produtos; aumento da segurança dos produtos; redução do custo líquido do descarte do produto pelo cliente; e maior valor de revenda e de sucata do produto. A utilização dos elementos segundo os autores DeSimone e Popoff são os benefícios colhidos pelas organizações com a implantação de um SGA apontados por Porter é o resultado da ecoeficiência, e proporciona ainda maior competitividade para as empresas.

De acordo com Kraemer (2002, p. 58) “pode-se dizer que a ecoeficiência objetiva maximizar o valor dos bens e serviços, ao mesmo tempo em que minimiza os impactos ambientais adversos, a utilização dos recursos e as conseqüências ambientais negativas provenientes de deposições e emissões”. Desta forma, observa-se uma maior harmonia entre as empresas e os ecossistemas naturais.
por
Marilize Petkow
Vera Luci Almeida