quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

DESASTRE NATURAL NO RIO DE JANEIRO


A alguns dias temos acompanhado, extasiados, os desastres naturais em Minas, São Paulo e Rio de Janeiro. Neste último caso, a barbárie tomou conta de centenas de vidas que adormeceram em suas camas e foram surpreendidos com um grande desastre natural.

Um de meus alunos me perguntou se as comunidades das cidades nestas regiões seriam responsáveis por todo este caus, e minha resposta é que, de certa forma a ação antrópica não pode ser responsabilizada pelo que aconteceu.

Desastres naturais sempre aconteceram desde que o mundo foi criado. Estes desastres acontecem na Terra e em todos os planetas e estrelas no infinito universo. Todavia, ficamos mais chocados com este caso do Rio de Janeiro devido a proporção de vidas que foram sucumbidas neste caus de lama, terra e água.

Quando observamos o círculo de desenvolvimento das eras geológicas podemos perceber que o planeta sempre passou por uma renovação natural. A água é purificada pela aeração que acontece desde as pequenas até as grandes cachoeiras; vulcões dão início a um novo território, uma nova ilha e até mesmo a um novo continente; o clima sempre passou por ciclos geológicos, ora aquecendo, ora esfriando. O planeta sempre se auto-ciclou durante seus milhares de anos de existência.

Neste caso do Rio de janeiro, havendo ou não ação antrópica, os deslizamentos aconteceriam. Não depende do ser humano, mas do processo natural de renovação do planeta. A terra que cobria as rochas, recebendo uma incidência hídrica muito grande, certamente com grande percolação por se tratar de um solo muito aerado e com grande quantidade de substratos, e com uma inclinação de quase 700 mais cedo ou mais tarde viria abaixo, e veio. No caso da comunidade afetada não diria que eles causaram este desastre, mas sim que estavam no lugar errado. A construção de edificações em encostas é um investimento de alto risco.

Encostas são locais de transição de água, solo, rochas e tudo o mais que a gravidade puder trazer para as partes mais baixas, no vale. Quando alguém constrói uma casa na encosta está afetando um meio ambiente não estável por natureza. Quando estudamos as comunidades indígenas, nunca as encontramos instaladas em encostas ou em áreas de risco ambiental. Não é necessário curso superior na área para entender que a força da natureza é infinitamente maior que a humana, e ficar em sua frente é morte na certa.

Se pudermos responsabilizar os responsáveis por este desastre natural no Rio de Janeiro, acusamos a chuva, o solo em cima das rochas, a inclinação das rochas; todavia, se tivermos que responsabilizar alguém por todas as edificações antrópicas nestas regiões de encostas e vales, e por cada uma das centenas de mortes, responsabilizamos o poder público: governos municipais, governo estadual, governo federal; promotoria pública, OAB, CREA, ONGs, Corpo de Bombeiros, a Companhia Energética do RJ, enfim, todas as empresas e instituições que colocaram seus serviços nestas construções avalizando-as em locais de enorme risco. Os governos se preocupam com a arrecadação, e neste caso, a qualquer custo, o poder público poderia entrar com ações públicas para impedir estas edificações, as ONGs voltadas para o Meio Ambiente poderiam fazer manifestações e ações para alertarem sobre o perigo que estas comunidades corriam ao erguerem suas construções, a Companhia de energia, uma vez instalando seus postes avalizam as construções irregulares, a prefeitura cobra o IPTU avalizando as irregulares construções.

Bem, falar de responsabilidade depois de tantas mortes parece meio antagônico das tantas permissões de moradia. O governo está demolindo casas em risco, mas quais casas não estão em risco nestas regiões? Todas estão em risco, pois as que não estão nas encostas estão nos vales, e se o que você espera ouvir é uma resposta incisiva vou dizer, estas cidades não deveriam existir nestas localidades.

Enquanto o dinheiro, os impostos e os interesses políticos e públicos comandarem o Brasil, continuaremos a ver desastres naturais destruindo vidas, marcando famílias, mas alimentando a riqueza daqueles que dependem da desgraça alheia para continuarem se enriquecendo.


por: Alexandre Pevidor