A humanidade sempre utilizou os recursos naturais para sua sobrevivência. As caças, os frutos das matas, troncos e raízes serviram de alimento, as cavernas de abrigo e o sol de bússola para nortear nas viagens nômades, e a água, ah, esta sim, sempre servia para manter qualquer comunidade primitiva. Por onde as comunidades primitivas parassem tempos, havia um rio por perto. A resposta a isso é bem simples: a água é fonte de vida. Sem ela a biota (biodiversidade) morre. A água serve para hidratar a fauna e a flora, e também é o agente principal, na dinâmica hídrica, por manter as precipitações regulares para cada região.
Há um mito que sempre acompanhou a humanidade, e ainda hoje, em um mundo tão evoluído, alguns destes mitos ainda são tidos como verdadeiros. Um deles é que os recursos hídricos de nosso planeta são eternos. Dados dão conta que de toda água existente na Terra (1.380.000 km³), 97,3% é água salgada e apenas 2,7% água doce. Da água doce disponível na terra (37.000 km³), 77,20% se encontra em forma de gelo nas calotas polares (28.564 km³), 22,40% se trata de água subterrânea (8.288 Km³), 0,35% se encontra nos lagos e pântanos (128 km³), 0,04 % se encontra na atmosfera (16 Km³) e apenas 0,01% da água doce está nos rios (4 km³). A disponibilidade renovável de água doce nos continentes pode ser estimada em porcentagens conforme segue: África: 10,00 %; América do Norte: 18,00 %; América do Sul: 23,10 %; Asia: 31,60 %; Europa: 7,00 %; Oceania: 5,30 %; Antártida: 5,00 %. O Brasil é o maior privilegiado em recursos hídricos, pois concentra em torno de 12% da água doce do mundo disponível em rios, e abriga o maior rio em extensão e volume do Planeta, o Amazonas. Além disso, mais de 90% do território brasileiro recebe chuvas abundantes durante o ano e as condições climáticas e geológicas propiciam a formação de uma extensa e densa rede de rios. MAS ISSO PODE ACABAR UM DIA!
Toda esta riqueza começa com um pequeno e singelo ponto de surgência de água, a conhecida fonte ou “olho” d’água. Infelizmente o que temos visto é alarmante. A destruição das matas, grandes rebanhos bovinos compactando os solos e gerando enormes bolhas de CO2 na atmosfera com suas fezes, e contaminando os corpos hídricos, ocasionando, dentre outros agravamentos, a eutrofização com Fósforo (P) e Nitrogênio (N) provenientes das fezes e da urina. Outro fator de agravamento dos recursos hídricos são as lavouras que são plantadas com muita proximidade dos rios e lagos, desrespeitando as leis de mata ciliar.
Alto Araguaia, nossa casa, tem o privilégio de ter nascido às margens do rio mais importante da região Centro-Oeste, o Rio Araguaia. Com suas nascentes do rio Araguaia estão nas grotas da Serra dos Caiapós e nas várzeas da região do Parque Nacional das Emas. Este glorioso Rio que passa calmamente por nossa cidade e alcança 2 km de largura no estado do Pará pede socorro. Não precisamos ser especialista para ver que a Mata Ciliar quase não existe, que a falta de conhecimento do Código Florestal Brasileiro tem gerado ações que estão provocando assoreamento, poluição, diminuição do oxigênio (OD) nas águas e consequentemente, a morte lenta do nosso rio.
Precisamos nos conscientizar que cada lixo deixado nas margens ou na natureza, acabará dentro do rio contaminando-o, que cada planta tirada das margens, que cada árvore cortada causará erosão e assoreamento, e principalmente, o derramamento de esgoto doméstico e/ou industrial lançado, sem tratamento, no Rio Araguaia levará nosso rio à morte.
O Rio Araguaia vivo é importante para continuarmos a viver. Ele nos promove alimentação, sedentação, lazer, admiração e até mesmo nosso orgulho dos cidadãos araguaienses. Não permita que matem esse rio.
Por Alexandre F. Pevidor
Tecnólogo em Gestão Ambiental
Especialização em Florestas em Ambientes Fluviais
Mestrando (Stricto Sensu) em Engenharia Florestal (UFPR)
Pós-Graduando (Lato Sensu) em Economia e Meio Ambiente (UFPR)