quarta-feira, 14 de julho de 2010

PSA DA ESPÉCIE PEQUISEIRO DO CERRADO (Caryocar brasiliense)



Durante muitos anos a concorrência antrópica com uma específica espécie da fauna do cerrado, no caso a Arara Canindé (Ara ararauna), para se alimentarem do Pequi tem causado a diminuição vertiginosa desta espécie de ave nativa do cerrado, uma vez que algumas comunidades matam a Arara para não haver concorrência na colheita do Pequi. Por outro lado, o fogo que é aplicado anualmente para combater pragas e limpar bordaduras de lavouras tem impedido que as mudas de pequi, que ainda estão em pequena estatura, vençam o ataque do fogo, vindo a morrer, permanecendo apenas as poucas espécies de grande porte, ou de idade adulta. Viabilizando a recuperação de ambas as espécies, desenvolvemos um projeto de Pagamento por Serviços Ambientais para recuperação das árvores do cerrado, e indiretamente o desenvolvimento da Ara ararauna em seu habitat natural.

UNIDADE REFERENCIAL DE PLANEJAMENTO

O Projeto é desenvolvido na região de Alto Araguaia, que “situa-se no Sudeste de Mato Grosso, sua população é de 13.770, segundo o censo de 2000. Seu relevo pertence ao Planalto Taquari - Itiquira e localizada a 17º 18’53”, numa Latitude sul e 53º 12’ 5”de Longitude Oeste.”

A Alta Bacia do Rio Araguaia, com 4496 km2 relaciona-se ao Planalto Setentrional da Bacia Sedimentar do Paraná (FRANCO e PINHEI-RO,1982)[1]. O Bioma dominante é o Cerrado e a microbacia envolve as regiões de Alto Taquari, Alto Araguaia, Araguainha, Alto Garças, São José do Povo, Guiratinga e Tesouro/MT.

SERVIÇO AMBIENTAL PRESTADO

Neste projeto de conservação e pagamentos por serviços ambientais incluímos o Pequi (Caryocar brasiliense). O Pequi é uma espécie nativa do Cerrado, muito comum e difundida nos estados de Goiás e Mato Grosso. Esta espécie produz um fruto característico muito apreciado pela fauna e pelo ser humano nativo das regiões de sua incidência. Para o consumo humano, o pequi é coletado após cair no chão, ainda em estado de amadurecimento, mas não pronto para o consumo. Se coletado ainda no pé, o pequi, quando passa pelo processo de cozimento, fica amargo, se tornando impróprio para o consumo humano. No caso da fauna, especificamente falando da Arara Canindé (Ara ararauna), o pequi serve de alimento quando ainda está no pé, antes de cair no chão, isto ocorre porque a Arara Canindé não se alimenta da “poupa”do pequi, como o ser humano, mas da castanha que se encontra na parte inferior do caroço, dentro da camada de espinhos densos que ficam localizados abaixo da camada de poupa.

Entendemos que a conservação desta espécie da flora do Cerrado implicará em diversos ganhos ambientais e sociais para a comunidade que vive nas regiões de conservação. O serviço ambiental prestado pela conservação do Pequi promoverá um grande aumento desta espécie nas regiões de incidência, e este aumento promoverá o desenvolvimento e o aumento da espécie de Arara Canindé (Ara ararauna), visto que o Pequi é o principal alimento desta espécie de frutífera. Por outro lado, com o aumento efetivo da família do pequiseiro na região de Alto Araguaia, servirá de alimentação para a comunidade humana nativa da região, visto que este é um dos principais alimentos e um dos mais apreciados pela população em sua época de incidência, entre os meses de dezembro a fevereiro. A conservação, e até mesmo o incentivo no plantio de novos pequiseiros na região do Araguaia também tem outro ganho socioambiental, pois promove um ganho maior na renda de várias famílias que usam este fruto para geração de renda quando são vendidos in natura, ou em poupa, como sorvete, etc.

Entendemos que como o Pequi é uma espécie nativa do Cerrado, de importância social e cultural para a população, de severa importância para a fauna, e essencialmente para a Arara Canindé. Assim, sua conservação trará diversos ganhos socioambientais para toda a região da microbacia do Araguaia. (continua)

por: Alexandre Pevidor

[1] FRANCO, M.S.M.; PINHEIRO, R. (1982) Geomorfologia In Projeto RADAMBRASIL 27, Rio de Janeiro.

sábado, 19 de junho de 2010

ENERGIAS RENOVÁVEIS

As fontes renováveis de energia, sem dúvida, terão uma participação cada vez mais relevante na matriz energética global. Estas fontes englobam a energia hidráulica, eólica, solar, hidrogênio e bioenergia. O conceito de bioenergia teve origem na teoria psicanalítica, onde Freud afirmava “...que nas funções mentais deve distinguir algo que possui todas as características de uma quantidade passível de aumento, diminuição, deslocamento e descarga e que se espalha ... como uma carga elétrica difundida pela superfície do corpo ...”. Neste contexto, a bioenergia é a manifestação da energia do organismo.


A discussão sobre bioenergia parece ser muito semelhante a esta história que a tanto tempo se estuda e discute na psicanálise. Tanta gente fala sobre o tema, tantas são as propostas de gerar e usar a bioenergia. Porém, no momento, é difícil dimensionar a verdade e o imponderável sobre a bionergia. Possivelmente, também, ao falar de bioenergia não sabe exatamente do que esteja tratando. A equação conhecida como E=mc2, expressa uma equivalência entre matéria (m), ou seja, biomassa no tema que trata este trabalho, e energia (E). A teoria cósmica do Big Bang versa que no início dos tempos havia um universo minúsculo que consistia unicamente de energia a altíssimas temperaturas.


À medida que esse universo se expandia ele se esfriava e uma parte desta energia foi se condensando em algumas partículas subnucleares, que por sua vez foram se ligando para formar a matéria tal como a conhece atualmente. O tema bioenergia, no presente, gera entusiasmo devido à conexão com os problemas ambientais globais, a economia brasileira em alto astral e o Brasil ser o “país da vez” no jogo da economia mundial. Este entusiasmo que vem da percepção de que não se trata apenas de um novo ciclo de crescimento. A nova onda apresenta-se como o prenúncio de algo muito mais abrangente, em extensão e profundidade. Esta vivendo o momento inaugural, em solo brasileiro, da civilização moderna da biomassa, na expressão de Ignacy Sachs, pesquisador da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris. Civilização da qual a bioenergia é apenas um dos elementos ao lado de muitos outros, como o alimento, a ração animal, o adubo verde, materiais de construção, insumos industriais, fibras, plástico, papel, celulose, química verde, fármacos, cosméticos. Ainda que modesta, a participação da bioenergia na matriz energética mundial, algo em torno de 10 a 14%, constitui-se potencialmente em uma das iniciativas de grande impacto para a redução do efeito estufa.


As recentes discussões sobre bioenergia, simbolizada nos biocombustíveis, mostram a sua importância em ajudar na solução dos problemas ambientais, e o quanto eles se tornaram estratégicos para as nações mais desenvolvidas e expectativa de novos caminhos para ajudar as economias mais pobres, notadamente do hemisfério sul; com potencialidade de grande produção de biomassa para usos múltiplos, centros na alimentação, energia e insumos de indústrias.


O desenvolvimento sustentável está ligado ao crescimento com responsabilidade, e para que haja crescimento é necessária muita energia, que deve ser gerada de fontes limpas e renováveis. Os países desenvolvidos não têm terras agricultáveis em quantidade e com as condições climáticas necessárias para a otimização do plantio da matéria-prima necessária para a produção de 3 biocombustíveis, com a eficiência e sem competição com a produção de alimento. A América Latina, e em especial o Brasil, aparece como grande celeiro para o crescimento da produção dessa matéria-prima, com extensas áreas disponíveis para a agricultura.


A bioenergia é um recurso, que em tese, pode ser a âncora do desenvolvimento sustentável do planeta devido o grande potencial científico e tecnológico acumulado na produção de biomassa, é a denominação genérica para matérias de origem vegetal ou animal que podem ser aproveitadas como fonte de produção de energia, mais comumente na forma de calor ou eletricidade. A biomassa, como matéria da ou a bioenergia, engloba, de maneira simplificada, os recursos:


a) florestas energéticas com aplicação de silvoquímica; destacadas em culturas como eucalipto, bracatinga, bambu, pinus e outras, onde se usa lenha, resíduos florestais industriais, biocarvão, etanol e metanol e madeira em gás,


b) culturas energéticas e matérias da agropecuária como cana-de-açúcar, , mamona, soja, algodão, pinhão bravo, dendê, babaçu, gergelim, canola, óleos vegetais girassol e resíduos agrícolas, esterco e cama de animais,


c) resíduos agroindústrias e indústria de alimentos,


d) resíduos urbanos como lixo e esgoto, gordura e óleos de cozinha e dejetos orgânicos. Assim tem-se a biomassa energética apresenta em multimaneiras como biomassa “in natura” como madeira, bagaço de cana e resíduos (agrícola: casca de babaçu, arroz, palha de milho; florestais: casca de madeira, serragem, cepilho, maravalha, cavacos, galhos e raízes; urbanos e industriais) e derivados de processos e matérias distintas nos produtos hoje muito difundidos como carvão vegetal, gases, metanol, etanol, briquetes, peletes, licor negro evaporado, bioóleos, bioetanol, biodiesel, palha, vinhoto, esgoto, lixo, Hbio, etanol de segunda e outras gerações que estão sendo gestados para estarem no mercado futuro.


Ainda, a bioenergia, além da biomassa, contempla a água através da energia hidráulica (usinas hidroelétricas, PCHs e energia de marés) e ventos via energia eólica, compondo num conjunto, as energias renováveis de uma matriz energética propugnada atualmente. Este conjunto de biomassa, na expressão bioenergética, está colocado na agenda global para atender o homem tecnológico que demanda mais de cem vezes o consumo per capita por dia do homem primitivo. A sustentabilidade do planeta e a manutenção do desenvolvimento tecnológico da sociedade passam, peremptoriamente, pelo equacionamento da matriz energética global, regional e local.


Por: Dimas Agostinho da Silva

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

OS RECURSOS NATURAIS E AS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS


A questão ambiental tem sido prioridade nas políticas governamentais em todo o mundo. Embora, muitos problemas ambientais continuem ocorrendo e diversas sejam as dificuldades relacionadas à fiscalização e aplicação das legislações, o mundo tem caminhado no sentido minimizar as pressões contra a degradação dos recursos naturais. O setor agropecuário brasileiro tem recebido atenção especial a esse respeito, uma vez que danos resultantes do uso inadequado de insumos e formas de manejo são conseqüências diretas das atividades agropecuárias intensivas e extensivas.


Um modelo sustentável de agricultura e pecuária, com a adoção de tecnologias adequadas, voltadas a atender as necessidades dos produtores e consumidores, considerando o ecossistema, é o que se pretende com as atividades agropecuárias sob a luz dos princípios da sustentabilidade, como já tratado na disciplina de “Meio Ambiente e Sustentabilidade”. O desenvolvimento de atividades exploratórias, fora destes princípios, pode trazer vantagens de curto prazo, contudo, compromete o potencial produtivo da propriedade com reflexos danosos ao ambiente.


A exploração agropecuária, principalmente nos últimos 100 anos, foi predatória e pouco racional. A supressão de grandes áreas de matas para a entrada da soja e bovinocultura de corte promoveu uma significativa alteração da dinâmica dos ecossistemas, afetando especialmente a qualidade e quantidade da água disponível.


Com a já percebida necessidade de preservar a natureza às futuras gerações, tornou-se necessário o desenvolvimento de um modelo de exploração agrícola e pecuária sustentável, economicamente e ambientalmente. Para isso, é necessário que os recursos naturais, a economia e a tecnologia caminhem juntos, fazendo com que os processos de produção tenham desempenhos sustentáveis. Ao invés de eliminar o uso de técnicas e insumos, deve-se buscar o emprego de tecnologias mais eficientes, sem necessariamente o detrimento de tecnologias já implantadas, buscando agregar benesses, bem como a adoção de formas de manejo integradas, associadas aos fatores bióticos e abióticos de produção.


Os processos tecnológicos são necessários uma vez que atuam como ferramentas à produção; a economicidade viabiliza a utilização do recurso, e o recurso natural é a matéria prima do processo, necessário à manutenção da vida da população e ecossistemas afins. É difícil conseguir arrazoar junto aos produtores que além de necessário, é também possível conciliar atendimento e ganho ambiental juntamente com ganho econômico. Por outro lado, é preciso evidenciar que não há atividade econômica que possa se sustentar sem a garantia da manutenção do potencial produtivo adiante. Seria um empreendimento com vida útil reduzida.


Os recursos naturais assim como o capital empresarial, ferramentas e o trabalho, constituem-se nos fatores essenciais de produção em qualquer exploração econômica. O solo, a água, a vegetação e a luz são os principais recursos naturais para o aproveitamento agropecuário, sendo, contudo os três primeiros esgotáveis, conforme o uso e o manejo aplicados na exploração. A caracterização do potencial e fragilidade destes torna-se imprescindível para determinar seu uso e manejo mais racional, harmonizar a exploração, aproveitando as benesses e respeitando as limitações, visando obter máximas produções, com redução a níveis aceitáveis, os desgastes ambientais. É imprescindível adequar o uso agropecuário à vocação da área, sempre com a adoção de práticas sustentáveis.


A exploração desenfreada das florestas, a monocultura irracional e a utilização maciça de defensivos, com o intuito de aumentar a produção agrícola, têm transformado rios, lagos e o próprio solo em ambientes altamente contaminados em várias regiões do Brasil. Além dos resíduos da produção pecuária e de defensivos, os detritos da produção industrial e os esgotos lançados diretamente nos rios, têm comprometido perigosamente a saúde humana e os recursos hídricos.


A humanidade sempre interagiu com o meio ambiente, e conseqüências negativas, de maior ou menor grau, sempre aconteceram. Além das atividades industriais e urbanas, acontecimentos negativos incidentes sobre o meio são ocasionados por atividades relacionadas à agricultura e pecuária. Enquanto a urbanização determina grandes problemas ambientais de forma pontual e concentrada, as atividades agropecuárias se caracterizam por causar impactos em áreas amplas, de forma difusa. A agricultura é responsável por perdas significativas de nitrogênio e fósforo, e quase todo potássio lançado aos rios brasileiros. A pecuária também promove significativos aportes de nutrientes aos rios, sobretudo, grandes descargas organominerais em razão dos efluentes líquidos e sólidos, produtos do processo de produção.


Sabemos que é necessário uma maior conscientização da sociedade às questões ambientais, porém, os problemas ainda continuam acontecendo, talvez hoje numa proporção ainda maior, como o exemplo do vazamento de mais de 1 bilhão de litros e lixívia e água da Indústria de Papel Cataguazes no Rio da Pombas em Minas Gerais, onde o resultado da imprudência e irresponsabilidade pôde ser sentido até nos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro, ou dos vazamentos de petróleo, poluindo rios no Paraná, Rio de Janeiro, etc. A desinformação, a ignorância e em alguns casos a irresponsabilidade quanto à conservação da integridade dos processos físicos, químicos e biológicos, acaba por acarretar verdadeiros desastres ambientais.


É necessário o envolvimento de todos, dos produtores rurais e urbanos, das comunidades, dos órgãos públicos, das instituições de ensino e pesquisa, dosconsumidores, enfim, de todos que direta ou indiretamente estão envolvidos no sistema de produção. A preservação da vida em toda a sua complexidade reza obrigatoriamente pela necessidade de buscarmos melhores condições para a produção de maneira sustentável e ambientalmente correta, e punição daqueles que decidiram evoluir em curto prazo, à custa da degradação ambiental.



Por Charles Carneiro, Dr