quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

OS RECURSOS NATURAIS E AS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS


A questão ambiental tem sido prioridade nas políticas governamentais em todo o mundo. Embora, muitos problemas ambientais continuem ocorrendo e diversas sejam as dificuldades relacionadas à fiscalização e aplicação das legislações, o mundo tem caminhado no sentido minimizar as pressões contra a degradação dos recursos naturais. O setor agropecuário brasileiro tem recebido atenção especial a esse respeito, uma vez que danos resultantes do uso inadequado de insumos e formas de manejo são conseqüências diretas das atividades agropecuárias intensivas e extensivas.


Um modelo sustentável de agricultura e pecuária, com a adoção de tecnologias adequadas, voltadas a atender as necessidades dos produtores e consumidores, considerando o ecossistema, é o que se pretende com as atividades agropecuárias sob a luz dos princípios da sustentabilidade, como já tratado na disciplina de “Meio Ambiente e Sustentabilidade”. O desenvolvimento de atividades exploratórias, fora destes princípios, pode trazer vantagens de curto prazo, contudo, compromete o potencial produtivo da propriedade com reflexos danosos ao ambiente.


A exploração agropecuária, principalmente nos últimos 100 anos, foi predatória e pouco racional. A supressão de grandes áreas de matas para a entrada da soja e bovinocultura de corte promoveu uma significativa alteração da dinâmica dos ecossistemas, afetando especialmente a qualidade e quantidade da água disponível.


Com a já percebida necessidade de preservar a natureza às futuras gerações, tornou-se necessário o desenvolvimento de um modelo de exploração agrícola e pecuária sustentável, economicamente e ambientalmente. Para isso, é necessário que os recursos naturais, a economia e a tecnologia caminhem juntos, fazendo com que os processos de produção tenham desempenhos sustentáveis. Ao invés de eliminar o uso de técnicas e insumos, deve-se buscar o emprego de tecnologias mais eficientes, sem necessariamente o detrimento de tecnologias já implantadas, buscando agregar benesses, bem como a adoção de formas de manejo integradas, associadas aos fatores bióticos e abióticos de produção.


Os processos tecnológicos são necessários uma vez que atuam como ferramentas à produção; a economicidade viabiliza a utilização do recurso, e o recurso natural é a matéria prima do processo, necessário à manutenção da vida da população e ecossistemas afins. É difícil conseguir arrazoar junto aos produtores que além de necessário, é também possível conciliar atendimento e ganho ambiental juntamente com ganho econômico. Por outro lado, é preciso evidenciar que não há atividade econômica que possa se sustentar sem a garantia da manutenção do potencial produtivo adiante. Seria um empreendimento com vida útil reduzida.


Os recursos naturais assim como o capital empresarial, ferramentas e o trabalho, constituem-se nos fatores essenciais de produção em qualquer exploração econômica. O solo, a água, a vegetação e a luz são os principais recursos naturais para o aproveitamento agropecuário, sendo, contudo os três primeiros esgotáveis, conforme o uso e o manejo aplicados na exploração. A caracterização do potencial e fragilidade destes torna-se imprescindível para determinar seu uso e manejo mais racional, harmonizar a exploração, aproveitando as benesses e respeitando as limitações, visando obter máximas produções, com redução a níveis aceitáveis, os desgastes ambientais. É imprescindível adequar o uso agropecuário à vocação da área, sempre com a adoção de práticas sustentáveis.


A exploração desenfreada das florestas, a monocultura irracional e a utilização maciça de defensivos, com o intuito de aumentar a produção agrícola, têm transformado rios, lagos e o próprio solo em ambientes altamente contaminados em várias regiões do Brasil. Além dos resíduos da produção pecuária e de defensivos, os detritos da produção industrial e os esgotos lançados diretamente nos rios, têm comprometido perigosamente a saúde humana e os recursos hídricos.


A humanidade sempre interagiu com o meio ambiente, e conseqüências negativas, de maior ou menor grau, sempre aconteceram. Além das atividades industriais e urbanas, acontecimentos negativos incidentes sobre o meio são ocasionados por atividades relacionadas à agricultura e pecuária. Enquanto a urbanização determina grandes problemas ambientais de forma pontual e concentrada, as atividades agropecuárias se caracterizam por causar impactos em áreas amplas, de forma difusa. A agricultura é responsável por perdas significativas de nitrogênio e fósforo, e quase todo potássio lançado aos rios brasileiros. A pecuária também promove significativos aportes de nutrientes aos rios, sobretudo, grandes descargas organominerais em razão dos efluentes líquidos e sólidos, produtos do processo de produção.


Sabemos que é necessário uma maior conscientização da sociedade às questões ambientais, porém, os problemas ainda continuam acontecendo, talvez hoje numa proporção ainda maior, como o exemplo do vazamento de mais de 1 bilhão de litros e lixívia e água da Indústria de Papel Cataguazes no Rio da Pombas em Minas Gerais, onde o resultado da imprudência e irresponsabilidade pôde ser sentido até nos estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro, ou dos vazamentos de petróleo, poluindo rios no Paraná, Rio de Janeiro, etc. A desinformação, a ignorância e em alguns casos a irresponsabilidade quanto à conservação da integridade dos processos físicos, químicos e biológicos, acaba por acarretar verdadeiros desastres ambientais.


É necessário o envolvimento de todos, dos produtores rurais e urbanos, das comunidades, dos órgãos públicos, das instituições de ensino e pesquisa, dosconsumidores, enfim, de todos que direta ou indiretamente estão envolvidos no sistema de produção. A preservação da vida em toda a sua complexidade reza obrigatoriamente pela necessidade de buscarmos melhores condições para a produção de maneira sustentável e ambientalmente correta, e punição daqueles que decidiram evoluir em curto prazo, à custa da degradação ambiental.



Por Charles Carneiro, Dr

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